domingo, 30 de agosto de 2015

Explicando o Quadro da Independência do Brasil

A história oficial você já conhece: Pedrinho de Alcântara Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon, o príncipe regente do Brasil, encontra com uma tropa portuguesa que papai D. João havia mandado atrás do filhinho bagunceiro. E ali, às margens do Rio Ipiranga, em um arroubo quixotesco, Pedrinho de Alcântara desembainhou sua espada, ergueu-a e gritou para os portugueses: “Independência ou Morte!” Tudo isso aconteceu em 7 de Setembro de 1822 e assim Pedrinho virou D. Pedro I, o imperador do Brasil. Essa é a história que você encontra em qualquer livro didático. E tal versão da independência do Brasil vem sempre acompanhada desta linda tela do pintor Pedro Américo: É uma obra magnífica, sem dúvida. Pena que não corresponde ao que realmente aconteceu. O quadro foi concluído em 1888 – iniciado em 1885 - , muito tempo depois do famoso “ouviram dos Piranga”. Então o que está ali retratado é fruto de (algumas) pesquisas e (muita) imaginação do talentoso pintor. Mas será que foi só imaginação mesmo? Reparem que no quadro, no lado esquerdo inferior da tela, existe um sujeito guiando um carro de boi que olha para a cena com muita curiosidade. Nunca se perguntaram quem seria este sujeito? Pois eu descobri: trata-se de Joaquim Preto de Jesus*, escravo de um fazendeiro cujo nome perdeu-se na história. Preto de Jesus foi a inspiração para que Pedro Américo pintasse seu quadro com tanta riqueza de detalhes. Os dois se encontraram em São Paulo, na região do Ipiranga, exatamente na casinha retratada ao lado direito da obra, onde conversaram sobre os fatos daquele 7 de Setembro: - O senhor poderia me dizer que idade contava na época em que D.Pedro I proclamou nossa independência? - Sim, sinhô: eu tinha 16 ano. - E hoje? - Hoje tenho 79 ano, mas alembro de tudo, tudinho, eu tava lá, vi tudinho com esses zoio que a terra há di comê e me alembro sim sinhô! - Então conte-me tudo o que viu, preciso saber mais sobre aquele dia para pintar um quadro. - Sim sinhô. Eu voltava de Santos porque ali era a trilha pra nóis que ia buscar mercadoria que desembarcavam no porto, num é? Era um caminho ruim, num sabe, então nóis usava mula, era mais melhó. Na verdade até o povo do príncipe usava mula! - D. Pedro I utilizava mulas como montaria? - Ah, sim sinhô, era melhó, num sabe? - Não vai ficar bem no quadro um imperador utilizando mulas. Pintarei belos cavalos. Mas continue, senhor. - Sim, eu vinha puxando os boi com as mercadoria e encomenda tudo pra meu sinhozinho quando vi aquele punhadinho de mula no meio da estrada. - Mas como? Não era uma grande comitiva acompanhando o imperador? - Sei dizer que se tinha uns 14, era muito. - E não estavam próximos ao riacho? - Não muito, faltava bem ainda umas duas légua. Vi o príncipe e ele tava muito irritado, indo pros mato o tempo todo. - Irritado com o que? - Hihihi...o sinhô me disculpe falá essas coisa, mas parece que ele teve uma briga lá com dona Marquesa, num sabe? - Como assim? O imperador foi a Santos para tratar de assuntos políticos! - Hihihi...é como dizem, num é? Mas me disseram que ele chegou lá na casa de sinhá Marquesa e comeu uma gororoba que ela mesma tinha feito e que num caiu bem. Ele disse que ela num sabia conzinhá e dona Marquesa expulsou o príncipe de casa. Parece que foi briga feia porque Dão Pedro tava com um galo no meio da testa, disseram que a Marquesa tacou uma panela nele! Aí nos caminho de volta o príncipe sentia dor de barriga e tava parano toda hora pra se aliviá! - Hum, mas dizem que ele se encontrou com tropas portuguesas... - Olha, sinhô, eu só posso falá do que vi. Na verdade era três mensageiro procurano pelo príncipe, diziam que tinha um recado do rei. - E que recado era esse? - Ah, isso eu num sei dizê. Só sei que o Dão Pedro leu a carta, botô a mão na barriga e disse “Senhores, me perdoem, mas vou resolver um assunto atrás daquela moita, trata-se de uma emergência de vida ou morte!” - Como? Não teve grito, princípio de luta? Foi assim mesmo? - Foi, foi sim sinhô. Os único grito que eu ouvia era do príncipe se aliviano atrás das moita. Mas ele era muito educado, tirou o chapéu pra recebê os mensageiro e tudo, Dão Pedro era muito humilde, era sim, era, me alembro de tudo. - Muito agradecido, senhor Preto de Jesus! Teu depoimento vai ajudar-me a pintar o quadro sobre a independência do Brasil! O que posso fazer por você? - Si o sinhô pudesse, eu queria que o sinhô pintasse meu retrato, é, eu gostaria sim, nunca tive dinheiro pra mandá pintá um, é. - Farei melhor, meu amigo: irei retratá-lo no próprio quadro da independência! Entrarás para a história do Brasil! Tu e esta casinha! Sim, é uma boa ideia, essa casinha vai compor bem o cenário para o quadro, ora, se vai! *nota: “Joaquim Preto de Jesus”, obviamente, é uma personagem de ficção, da mesma forma que o diálogo com o pintor Pedro Américo, embora com base em fatos históricos. Se está fazendo pesquisa escolar, leia AQUI e AQUI. Leia meus brados retumbantes no twitter www.twitter.com/jaimeguimaraess

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